CLIC
Não são raras as vezes que as pessoas utilizam este termo, não para reproduzir verbalmente um estalido de determinado objecto (como quando se liga um interruptor), mas antes referindo-se ao fenómeno que se desenvolve, sob a forma de combustão espontânea, quando se sentem particularmente atraídas por alguém. Este
clic vale o que vale, embora assuma valorizações diferentes em função dos contextos e da personalidade de cada um.
Dizia-me um amigo que
“quando não há o clic, apesar de haver atracção, mais vale não investir, porque acaba por não resultar em nada”. Na verdade, são muitos os que sustêm a ideia de que, sem esse
clic, o desenvolvimento de algo mais profundo está rotunda e automaticamente condenado ao fracasso, como se fosse uma condição
sine qua non…
A minha visão diverge, em grande escala, desta crença, uma vez que pode redundar num minimalismo que, per se, constitui um inibidor, à priori, da transposição da superficialidade. Na história dos relacionamentos, as relações pré-concebidas de causa-efeito são altamente falíveis, o que sugere que esta crença parece não ter validade nem utilidade.
Reconhecendo que o
clic funciona como uma predisposição inicial para o avanço, acredito, não obstante, que este não tem de ser, obrigatoriamente, espontâneo e imediato, sendo passível de uma depuração gradual resultante de combinações multifactoriadas. Além disso, nem sempre este fenómeno consegue operar-se na esfera do consciente, pelo que o
clic pode ter ocorrido num precedente não considerado e apenas se vir a deduzir a sua manifestação muito mais tarde.
Nessa linha de pensamento, fará sentido pautar os nossos investimentos pela ausência/presença de
clics imediatos? Estar-se-á, eventualmente, a coartar a hipótese de vislumbrar esse
clic à posteriori… E tenho reparado que, ao reger-se por esta ideologia, a pessoa torna-se cada vez mais exigente na busca desse
clic, reduzindo ainda mais a possibilidade de o encontrar.
A naturalidade e espontaneidade das coisas não deve ser congeminada, pois que se aniquilam de imediato. E torna, assim, a vivência emocional muito mais limitada…
Duende