segunda-feira, fevereiro 16, 2004

É um dia solarengo. A alvorada mergulha pelo horizonte e bafeja a aura de uma manhã quente de Inverno. A rotina pachorrenta, a galhofa dos putos no terraço… e eu sou feliz. O dia vai alto e eu espero pela novela, como um traquina por um doce. O futuro não importa, o presente é o meu torrão de açúcar, que cai na água e se dissolve. E nesse dia, como em todos os outros, sorvo a água que me espera, doce e amena. E engasgo-me! A água está amarga, envenenada pela dor e contaminada pelo futuro negro. O choro da alma invade-me o presente como se já não houvesse amanhã. Vejo-me desfazer, desintegro-me de mim própria e sinto-me desistir.
O amanhã chegou cinzento e assim ficou por muito tempo. Doze anos depois, o dia é cinzento de vez em quando. A pequenita ainda mora dentro de mim, quando me lembro de ti… e esta memória, que me abraça todos os dias, torna-te presente num mundo que é só meu, quando, no mundo de todos, há muito desapareceste…

Um beijo eterno, Papá!

Duende